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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

TRÊS GERAÇÕES QUE FORAM PRA RUA



Os ‘protestos’ de meados do ano passado, antes da realização da Copa de 2014, deixaram uma marca forte na história desse país, não só pela violência, mas também pelo enfoque demasiado dado pela grande imprensa, fazendo-o, por vezes, maior do que de fato era.
O que se via, muito além do que a mídia de massa queria mostrar, era uma garotada insolente destruindo patrimônio alheio e público e peitando uma polícia hesitante  e acuada, mas também uma juventude controlada, comandada que nem por um Joy Stick, por uma mão macabra acima deles todos e que direcionava-lhes a fúria para ali ou acolá.
Agora que a poeira assentou, e os cacos de vidros das agências bancárias foram recolhidos, pode-se ver um pouco mais claro o que se sucedeu, e “pemba”, uma clarividência típica dos velhos apareceu tal qual a pomba do espírito santo e falou baixinho: isso é coisa de juventude mesmo! E cada época tem a juventude e sua rebeldia que merece.
Eu, por exemplo, fui pra rua, lá os idos de 1992, gritar “fora Collor”, e já fiz um “mea culpa” inclusive, pois se pudesse voltar ao passado não faria isto. Eu fui usado, eu e os de minha época,  pois se tirou um presidente democraticamente eleito (muito embora, não se concorde com suas práticas, mas democraticamente eleito) e a “seboseira” continuou. Eu fui usado, manipulado, eu e quase todos de minha geração, ajudamos, inconscientemente um “golpe branco” que tirou um pseudo-caçador de marajás, só porque algum poderoso disse “sim”, e o dito e falado “presidente mauricinho” deixou de ser útil e interessante aos poderosos que bancaram sua campanha. No ano seguinte estourou o escândalo dos “anões do orçamento” (alguém se lembra? O ano era 1993) que foi bem pior e ninguém foi pra rua pra dizer um “aí”!
Mas agora, 2014, essa molecada foi pra rua, pra eles isso (o fato de ir pra rua protestar) era (ou é) a grande novidade. Mas que nada! Parece que é cíclico, a cada 20 anos uma geração vai pra rua pedir (berrar) por algo, algumas vezes são ouvidos, outras solenemente ignorados.
Nos anos finais da década de 1960, uma galera corajosa foi às ruas gritar e peitar uma das ditaduras mais sanguinolentas da América latina e enfrentou uma repressão braba e cruel! E naquele tempo de AI-5 não tinha nenhum grupo de defesa dos direitos humanos cheios de “não-me-toques”! Pra essa geração eu tiro meu chapéu e rendo minhas homenagens, não só pela coragem, mas pelo ideal de buscar um verdadeiro mundo melhor e um país mais justo. Era um pessoal mais letrado, mais culto. Aquela geração não tinha muita televisão, internet e Facebook pra eles eram peças de ficção científica, a distração era ler e ler, por isso eram melhores
A minha geração ( a do tempo do “fora Collor”) foi a geração “carnaval”, “tudo era alegria”, da “eterna festa”, a galera foi mais pra curtir, e o protestar era só moda, ninguém sabia de nada, foi só no embalo, pintar a cara de preto e paquerar no meio do protesto. Era só alegria, éramos a geração do rock dos anos 1980, a geração Xuxa/Balão Mágico, tudo muito leve, solto, light, pueril. Algo como: “ pronto, Collor saiu do poder, vamos brincar, mais tarde tem mais tarde tem mais festa” (ai-ai-ai que vergonha....)
Já agora, essa garotada que foi pra rua em 2014, tem fúria e sangue nos olhos, cresceu vendo Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z e outros animes, desenhos animados tão violentos quanto a cobertura de um telejornal da Rede Record. A geração dos Games de luta. Essa geração de hoje, não pensa duas vezes em meter um taco de basebol seja numa vitrine ou no crânio de um desafeto.
Curioso observar que e fato é o intervalo de cerca de 20 anos entre uma geração que vai pra rua de outra que já foi.
A geração idealista foi violentamente calada pela repressão.
A atual geração “porrada” destruiu muita coisa, mas está sendo paulatinamente ignorada e esquecida.
            Só quem “levou” alguma coisa foi justamente a geração carnaval, a minha geração, por coincidência, que no embalo da new wave tirou um presidente e ficou por isso mesmo